domingo, 6 de julho de 2014

Maria, João e o falso perdão

  Uma pequena cidade no interior com habitantes com uma cultura cativante: extremamente unidos, solidários e simples.
  Dentro desse contexto, existia uma jovem muito promissora, Maria, filha de comerciantes que estavam bem de vida mas que tiveram uma juventude muito pobre, seu pais eram trabalhadores do campo, trabalhavam de sol a sol e economizavam o possível para quando conseguissem dinheiro o suficiente, abrissem um pequeno mercadinho. Não era nada fácil economizar nas circunstâncias em que viviam, moravam de aluguel e seus salários eram baixos. Às vezes, deixavam de fazer uma das refeições do dia para conseguir economizar mais dinheiro para acelerar o caminho para o objetivo e deixar a vida menos sofrida.
  Conseguiram abrir o mercadinho, no mesmo ano nasceu Maria, seus pais a tratavam com todo o dengo e carinho, era uma garota de personalidade simples mas muito marcante, principalmente porque estava sempre disposta a ajudar os outros ao seu redor, muito provavelmente seguindo os exemplos dos pais que sempre procuravam ajudar os necessitados depois de eles mesmos terem saído da miséria.
  Anos depois, Maria estava trabalhando no mercadinho e foi surpreendida por um assaltante, esse após recolher o dinheiro do caixa exigia que Maria fosse com ele para os fundos, ele desejava molestá-la, Maria resistiu, reagiu, foi baleada e acabou falecendo.
  O assassino acabou sendo reconhecido, era morador da cidade, fugiu para longe, acreditava piamente que sairia ileso, mas passou a ter uma existência cada vez mais torturada: tinha de mudar incessantemente de moradia, não podia mais ver seus familiares e amigos, não podia mais frequentar lugares públicos de maneira sossegada, não estava preso mas estava sem liberdade. Acabou escrevendo para o pai, Pedro, deixando uma carta embaixo da porta numa madrugada qualquer, o pai leu a mensagem em que o filho fugitivo expressava sua terrível vida agora e arrependimento, o pai escreveu uma resposta e deixou num cantinho onde pudesse ser encontrado, lá estava um local, data e hora para encontrar com o filho.

  Encontraram-se em um terreno abandonado, após uma longa conversa, o pai indagou ao filho:
- "Então está mesmo arrependido meu filho?"

Não tardou a responder o larápio
- "Não faz ideia, não durmo tranquilamente com medo de ser preso, não sou mais livre para ir e vir para onde quero, não tenho mais lazeres tão pouco amigos, queria muito pedir perdão à família por isso"

  O pai deu então um sinal e policiais apareceram, algemaram e prenderam o "suspeito" que olhou para o pai sem compreender o ocorrido, Pedro rapidamente respondeu ao olhar do filho:
 - "Não está arrependido pelo que fez, não está arrependido pela dor que causou, não está em nenhum momento preocupado com outro se não consigo mesmo, arrependeu-se não pela alma que matou, mas pelas condições precárias que leva de vida agora, se não fosse por isso que você está passando, continuaria vivendo livremente sem pensar no que fez, se realmente estivesse arrependido, se realmente quisesse o perdão e renunciasse a si mesmo para o bem da família da vítima, faria de tudo para amenizar suas dores mas, pela conversa que tive, você não sabe como eles estão agora, você não se entregou para amenizar a dor deles, você nunca deixou uma carta pedindo desculpa embaixo da porta deles, deixou embaixo da minha porta na esperança que eu usasse meu poder de Juiz a seu favor, isso é o máximo que posso fazer até aqui para tentar lhe mudar, as outras lições são da vida, e estão fora do meu controle, podemos perdoar erros, mas não más intenções, do contrário não se chamaria perdão, chamaria-se vista grossa".

Nenhum comentário:

Postar um comentário